Primeira impressão de Praga: como as pessoas são gentis em educadas! É “prosím” (por favor) e “dîkui” (obrigado) o tempo todo, todos com quem falei foram hiper atenciosos e eles ainda dão passagem, seguram a porta pra gente passar, os homens levantam pra gente sentar no ônibus… achei tudo muito chique, muito fino.

Outra coisa que me marcou é que em todos os lugares em que chegava, as pessoas olhavam pra minha cara e já começavam a conversar como se eu entendesse tudinho. E o pessoal meio que se surpreendia quando percebia que eu não era “nativa”. Não sei dizer ao certo se isso acontecia pelo excesso de gentileza deles ou se eu é que tenho jeito de ser tcheca. Enfim, não tenho um nada pra reclamar.

Ou melhor, tenho sim: cheguei tarde aqui. O trem (se interessar pra alguém, peguei a linha Euro City 179, da DB — saindo da Berlim Hauptbanhof até a Praha hlavní nádraži, estação central de Praga) demorou um pouco mais nas paradas em Desdren e Děčin por causa de umas conexōes atrasadas e a gente chegou mais tarde que o previsto. Aí já eram mais de 22 horas, saí quentinha do vagão aquecido e fui recebida por um vento traumatizantemente gelado e, em vez de correr o risco de me perder pelas estações de metrô com nomes impronunciáveis, preferi pegar um táxi. É óbvio que o taxista espertalhão se aproveitou da turista aqui e cobrou o preço fechado absurdo de 980 CzK sem negociação — mas ok, a comodidade acabou compensando e ainda fiz um citytour noturno (ele deu uma volta e-nor-me pra me enrolar, mas eu sabia que o percurso nem era tão longe assim). Se quiserem uma dica, não façam isso. 😉

Cheguei sã, salva e congelada no hotel Amadeus. Ele fica um pouco distante do centro histórico (1,5 km), mas consegui uma diária de 20 € por dia e o acesso para lá é bem fácil (a linha 9 do tram te deixa na praça Wenceslas, no meio da turistada, em menos de 15 minutos), então valeu muito a pena. Na hora de fazer a reserva pela internet (no booking.com) fiquei um pouco com o pé atrás, mas chegando lá o quarto realmente me surpreendeu: não é tão apertado e é bem bonitinho. O banheiro é bom, com chuveiro quentinho e aquecedor, além dos dois dentro do quarto. O pessoal da recepção é muito simpático e super prestativo, e o café da manhã não tem frescura, mas é suficiente. Ou seja, com certeza recomendo.

Como meu primeiro dia de fato era véspera de Natal (e aqui é a comemoração mais importante do ano), consegui aproveitar poucas coisas abertas até as 14 horas, mas deu para passear pela Cidade Antiga, pelos mercados de Natal e depois fiquei andando pelas ruazinhas antigas e alguns jardins. Aproveitei também para comer o tradicional bolo enrolado tcheco: uma espécie de massa assada no rolete.

Precisei fazer um filminho porque somente com foto não dá para registrar a singularidade dessa iguaria. E, meu Deus, que delícia! Vou precisar voltar aqui só pra comer uns bons pedaços disso… Nem precisa dizer que com Nutella fica ainda mais incrível, né?

A ceia de Natal precisa de um post específico. Aguardem as cenas dos próximos capítulos! 😉

[Assim que conseguir baixar as fotos, atualizo o post]

Confesso que nunca fui muito fã do Inverno. A única coisa que me agradava nessa época é que em julho tinha férias da escola e eu podia ficar até mais tarde afundada na minha cama entre todas as cobertas disponíveis. Além disso, só banho pelando, chocolate quente, fondue, sopinhas, chás e lareira me interessavam. Porém neste ano tuuudo mudou.

Primeiro porque finalmente conheci a maravilhosa indústria têxtil térmica — meu Deus, como consegui sobreviver quase 30 anos sem conhecer ao menos uma dessas peças mágicas? Ok, o olho arde com o vento gelado, os lábios racham, o nariz resseca, a garganta ameaça arranhar; mas é só colocar uma segunda-pele e uma meia calça por baixo da roupa e voilá, você está pronto para passear na rua feliz e saltitante. Esta é, realmente, A descoberta do momento.

O segundo e mais importante motivo de eu estar aceitando bem o fato de trocar uma Primavera (estação que mais amo) por outro Inverno é a neve. Pois é, como a maioria das pessoas que vivem em um país tropical, morro de vontade de conhecê-la. O mais próximo que cheguei disso foi durante a travessia dos Lagos Andinos, entre a Patagônia Chilena e a Argentina, quando consegui ver as Cordilheiras branquinhas, mas cheguei atrasada no único dia em que nevou em Bariloche. Daquela vez, enfrentei o frio em vão, mas realmente espero que agora todo o esforço valha a pena. É por isso — e só por isso — que faço coro com meus queridos Los Hermanos e concordo: deixa o verão pra mais tarde!

Os meteorologistas vêm prometendo há semanas e todos os alemães com quem surge o assunto “Tempo” dizem que já era para estar nevando bastante, entretanto só expectativas frustradas. Confesso que cheguei até a duvidar da existência desse gelinho que cai do céu, mas ontem tive a prova de que sim, ele existe. Fui almoçar no shopping e, na hora em que saí na rua, notei uma chuva com uns pingos meio estranhos, mais densos. Achei que fosse granizo, mas olhei para o chão e não tinha nenhuma pedrinha. Só quando esperava para atravessar a rua é que vi que os pingos, na verdade, eram neve caindo do céu no meu casaco. Na hora fiquei tão maravilhada que demorei para perceber o Ampelmannchen verde no semáforo. Mas como alegria de brasileiro dura pouco, foi tudo tão rápido que mal cheguei na porta do meu prédio e a neve já tinha derretido e virado só chuva.

Poxa, São Pedro. Ainda não deu pra aproveitar quase nada: não fiz anjinho, nem boneco de neve muito menos guerrinha. O máximo que eu vi foram uns tímidos floquinhos e alguns carros quase cobertos de branco antes de dormir, mas já era bem tarde e estava muito gelado — e eu de pijama, quentinha. Registrei na foto, mas por favor capricha aí que esse frio tem que ser compensado com uma diversãozinha, né? 🙂

Como vocês podem perceber, as malas viraram mesmo trauma. Fazer o que, né? Mas o erro vai virar experiência e, para isso, quero explorá-lo o máximo possível. Depois dos 5 aprendizados e com base em tudo o que trouxe e o que não viu a luz do dia até hoje, montei uma listinha que vai me orientar nas próximas viagens e, já que está feita, vou publicar aqui — vai que alguém precisa de umas dicas também.

Abaixo estão basicamente as peças que usei (ou que fizeram falta) até agora: cheguei no começo de setembro, então peguei o fim de um verão muito quente e até agora um pouco de frio — nada muito além do que estou acostumada a sentir no inverno de São Paulo. Portanto, essa lista não é definitiva e pode ser que ainda mude bastante.

Importante: os itens listados abaixo são os básicos. Dá, sim, para sobreviver muito bem apenas com eles, mas cada um tem suas preferências e seu estilo, portanto ela é válida para mim, que estou aqui estudando e passeando. Talvez para alguém que venha a trabalho ou tenha um estilo mais formal, a lista cresça um pouco.

__ Bagagem de mão

. Uma troca de roupa completa e confortável, que pode ser usada se a bagagem for extraviada, a viagem adiada pela companhia aérea ou ainda durante o voo, caso a temperatura no avião esteja muito baixa (calça, blusa, lingerie, par de meias, casaco — de acordo com a previsão do tempo para a cidade-destino).

. Produtos de higiene pessoal e beleza em quantidades mínimas (recipientes com no máximo 100ml. e todos em um saco plástico com capacidade de 1 litro e fecho do tipo zíper). — isso é, na verdade, uma regra internacional.

__ Bagagem despachada

. 1 pijama de verão (short + camiseta manga curta) e 1 pijama de meia estação (calça + camiseta manga longa) — a ideia é poder combinar a camiseta de manga curta com a calça, caso não esteja tão frio. Mesmo no inverno, os quartos têm aquecimento, então raramente vai ser preciso uma blusa mais grossa.

. 2 calças jeans (uma mais larguinha e outra com lycra)

. 1 calça de outro tecido (um pouco mais social)

. 1 short e/ou bermuda

. 4 camisetas manga curta

. 4 blusinhas manga longa

. 1 camisa

. 1 vestido neutro (que possa ser usado de dia e à noite, com acessórios)

. 2 suéteres/casaquinhos leves

. 1 jaqueta

. 1 casaco mais quentinho

. 1 cachecol

. Luvas e gorro (ou touca ou chapéu, de preferência que proteja as orelhas)

. 1 chinelo

. 1 rasteirinha

. 1 tênis

. 1 bota (sem salto, que possa ser alternada com o tênis no dia a dia)

. 1 sapato com salto

. calcinhas e meias

. roupa de banho (e saída de banho, dependendo do clima e dos seus planos)

. 1 toalha mágica

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Atualização:

Seguindo as dicas de amigos que já enfrentaram neve, providenciei alguns reforços para o meu guarda-roupa tropical — vamos torcer para que sejam suficientes!

Aliás, recomendo que essas peças sejam emprestadas, compradas ou alugadas (dependendo do tempo de estadia) aqui mesmo, já que no Brasil muitas vezes são difíceis de encontrar e quase sempre mais caras, sem contar que você pode acabar levando gato por lebre.

__ Adicional de frio/neve

. 1 casaco impermeável, acolchoado e com capuz

. 3 camisetas segunda-pele térmicas

. 2 calças ou meias-calças térmicas

. 2 blusas de fleece (que segura a temperatura)

. 1 colete quente

. 1 bota impermeável e forrada, com solado de borracha

. meias de lã

Os alemães têm fama de serem certinhos e superorganizados, mas na prática não é muito bem isso. Bom, acho que eles até tentam, só que acaba virando aquela bagunça que os brasileiros já conhecem bem: falta de boa vontade, atrasos, filas enormes, confusão… e hoooras de espera.

Apesar disso, há algumas regras que devem ser seguidas à risca em solo alemão, e a primeira delas é que todas as pessoas que pretendem permanecer além do período permitido para um turista (que para quem nasceu no Brasil é de 3 meses) precisam se registrar na cidade. E o mais importante é que isso deve acontecer em no máximo duas semanas após a chegada no país.

A primeira providência é descobrir qual é a Bürgeramt (algo como uma subprefeitura) mais próxima de onde você está. O grande segredo é que o site oficial da cidade (berlin.de, que possui inclusive uma versão em inglês) funciona lindamente para esse propósito. Sugiro que em seguida você já agende um Termin (ou “compromisso”) pela internet mesmo, pois ele te poupará de um pouco de fila. Note que a agenda é super disputada e pode ser que não haja disponibilidade tão cedo, portanto não demore para marcar sua data.

No dia do agendamento online ou então de acordo com os horários de atendimento — é importante checar no site pois é diferente a cada dia da semana –, você precisa levar seus documentos:
. passaporte
. comprovante de endereço
. justificativa da estadia (carta oficial atestando curso, trabalho etc.)
. visto, se tiver

Para quem não fala Alemão muito bem é melhor se preparar psicologicamente, pois lá há poucas pessoas que sabem Inglês (ou não estão dispostas a ajudar), então muito provavelmente você terá que se virar com os atendentes da forma que der. Pois é, viel Glück! E torça para que quem te chamar seja uma pessoa simpática e prestativa — meio caminho estará andado.

Se der tudo certo até aí, o processo seguinte é bem simples e rápido. Você vai responder algumas perguntas (nome, endereço, data de nascimento, naturalidade, profissão, religião…) e o atendente preenche o formulário pelo computador. Aí é só assinar a impressão do documento e você recebe uma espécie de “recibo” (Anmeldebestätigung). Alguns dias depois, uma carta com um número permanente de registro na cidade, seu Persönliche Identifikationsnummer, chegará no endereço registrado. Parabéns, a partir desse momento você será mais um cidadão berlinense!

Ver o mapa do metrô de Berlim pela primeira vez foi assustador, confesso. Pra alguém que consegue se perder na meia dúzia de estações de São Paulo, todas as conexões e linhas e tipos de veículos daqui parecem um emaranhado difícil de entender. Mas na prática não é assim um bicho de sete cabeças. Na verdade, é tudo tão simples que depois você chega a pensar como pode achar tão complicado no começo.

Bom, vamos começar do básico. O sistema de transporte coletivo em Berlim é operado pela BVG (Berliner Verkehrsbetriebe) e é impressionantemente eficiente e organizado. O mapa parece confuso pois todas as linhas de metrô (U-Bahn), trem de superfície (S-Bahn), bonde (Straβenbahn) e ônibus (Bus) são integradas — o que acaba facilitando MUITO a locomoção pela cidade. E, melhor ainda, os bilhetes são válidos para todas elas. Além das bicicletas, talvez esse seja o grande segredo de poucas pessoas circularem em carros por aqui.

E é verdade que não existe catraca nem controle nas estações, mas os fiscais entram aleatória e frequentemente nos vagões, conferem os tickets de todos os passageiros e aplicam multas (se não me engano de 40 € sem choro nem vela nem a desculpa de “sou turista e não sabia”) para quem não comprou e/ou validou a passagem. Portanto, a principal dica é não brincar com a sorte: lembre sempre de validar seu ticket antes do embarque.

Agora vamos à parte prática: Berlim é dividida em três zonas, sendo que a central é a A, circundada pela B e finalmente tem a C em volta dela. Basicamente tudo fica na região AB – a única exceção é o aeroporto Schönefeld, que está na C. Apenas depois de algum tempo aqui é que descobri o site da empresa, muito completo e fácil de utlizar. Lá você consegue consultar direitinho essa questão ABC, itinerários (é só colocar o endereço do destino e ver o melhor caminho), valores atualizados e até os horários de partida e chegada (que, acredite, são respeitados à risca!).

Bom, para viajar você precisa do ticket. E existe um tipo para cada situação:
– individual (vale por 2 horas para todas as linhas e baldeações, desde que não seja ida e volta);
– o de 4 embarques (que na verdade são 4 bilhetes simples válidos nas áreas AB);
– o diário (válido até as 3h da manhã do dia seguinte à validação);
– o semanal;
– o mensal (sendo que há a possibilidade de ser válido do dia 1º ao último dia do mês, ou por 30 dias corridos a partir da validação – é preciso escolher na hora da compra);
– o mensal 10am (mais barato mas, nos dias úteis, só pode ser utilizado após as 10 horas da manhã); e
– o anual.

Além disso, há passagens específicas para grupos, estudantes, para bicicleta e até para cachorros! E os promocionais para turistas, que dão descontos em lojas, restaurantes e museus, entre outros — mas isso é outra história (para mais informações consulte Berlin WelcomeCard).

Na minha opinião, a parte mais complicada é justamente a compra do primeiro bilhete. Depois de escolher o mais adequado no exteeenso cardápio, você segue para a máquina de auto-atendimento que existe em todas as estações de U-Bahn, S-Bahn e também dentro dos bondes (nos ônibus são vendidos diretamente pelo motorista). Como eu realmente sofri pra entender o processo todo, preparei um tutorial ilustrado para evitar a dor de cabeça alheia. Vamos lá!

O primeiro e mais importante ponto é que existe um botão com bandeirinhas no canto inferior direito, logo abaixo do “i” azul. Clicando nele você seleciona o idioma em que deseja comprar – e a menos que já seja íntimo com o Alemão, você realmente vai preferir comprar em inglês ou espanhol, por exemplo.

Como mágica, a tela parece fazer sentido! Agora você tem de escolher a área em que pretende utilizar as linhas (AB, BC ou ABC) e o tipo de bilhete mais adequado a sua viagem.

Ou então, pode clicar em “Other tickets”, ali em baixo, para ver a lista completa de opções:

Depois de selecionar o seu bilhete na lista, você precisa informar a área em que viajará. No botão “Select route” é possível colocar as estações a que precisa ir e confirmar em quais zonas irá utilizar o ticket.

Em seguida, a máquina mostra o valor e as moedas/notas que você pode utilizar (importante: cartões de crédito não são aceitos!).

É bom ter dinheiro trocado para evitar problemas. E mais uma vez: lembre-se SEMPRE de validar o ticket ANTES do embarque.

Com o tempo fica mais fácil e aí você nem precisa pensar muito. O segredo é saber direitinho o número da linha e o sentido em que precisa embarcar (última estação da linha). No começo você pode se perder, sim, mas lembre-se que, se errar o caminho, é simples: basta inverter o lado e você chega ao destino. Simples assim! 🙂

Malas. Sim, vou voltar ao assunto, mas é porque espero que esse post seja útil para que ninguém mais cometa o mesmo erro que eu em relação ao que colocar na bagagem e o que deixar em casa para uma viagem longa (no meu caso, mais precisamente para Berlim). E prometo que será a última vez que o tema aparece por aqui.

Registro abaixo os Meus 5 Principais Aprendizados sobre Como Arrumar as Malas que podem auxiliar também qualquer um nessa difícil missão.

__ 1. Você tem a força?
Pra começar, lembre que, a menos que exista à sua disposição um carregador particular, é você mesmo que vai ter que levar toda sua bagagem. Ou seja, não adianta querer dar uma de caramujo e enfiar o guarda-roupas inteiro na mala pois, se você conseguir, com certeza se arrependerá ainda no aeroporto, assim que tirar tudo da esteira.

__ 2. Lembre-se dos degraus
Outro ponto importante a ser considerado: rodinhas nas malas, por mais articuladas, modernas e tecnológicas que sejam, diminuem seu esforço no terreno plano e no máximo em uma subidinha ou outra. Mas a Europa é um continente antigo, muitos dos prédios (inclusive hotéis, albergues e a maioria das estações de metrô) não têm elevador e subir e descer escadas com quilos de roupas nas costas não é nada agradável, principalmente quando você prefere gastar energia batendo perna pra conhecer tudo.

__ 3. Previsão do tempo falha menos que intuição
Informe-se sobre o clima na região em que ficará e considere todas as estações do ano em que estará lá. E leve ao menos uma muda de roupa para cada uma delas. Pode parecer básico, mas ao separar as minhas coisas, fiquei extremamente preocupada com o frio que poderia ter que enfrentar e acabei passando calor aqui de calça jeans e tênis em um fim de verão bastante quente. Portanto, item incluído no checklist.

__ 4. Às vezes é melhor remediar do que prevenir
Por mais que você queira evitar dores de cabeça e prever toda e qualquer necessidade, sempre tem um supermercado ou loja em que é possível comprar quase tudo o que tem na sua casa e que por ventura seja necessário em alguma situação isolada. E, em último caso, você consegue emprestado com alguém. Ou seja, se ficar na dúvida se algo é realmente necessário, o melhor é deixar para trás.

__ 5. Aprenda comprando — uma ótima desculpa 😉
Se você vai morar no país por algum tempo, leve o mínimo possível de produtos de higiene pessoal e de beleza. Além de evitar excessos, é mais legal poder usar produtos que são geralmente caros no Brasil e a experiência de “ir às compras em outra língua” é super interessante. E no fim você vai acabar comprando de qualquer jeito…

Além desses cinco itens, nunca é demais lembrar que o bom senso deve ser convidado de honra para a arrumação da bagagem. Neste caso, também vale a máxima do “menos é mais” e garanto que é melhor esquecer alguma coisa do que carregar milhões de outras inúteis — e seus ombros agradecerão.

A minha exploração do Muro de Berlim teve continuidade com a visita à East Side Gallery em mais um dia azul, apesar das nuvens aqui e ali.

A chamada “maior galeria a céu aberto do mundo” é atualmente o mais longo pedaço do histórico Muro que continua em pé, com 1,3 km de extensão. O lado Oeste dele foi pintado/grafitado/colorido por artistas de todos os cantos do planeta com o objetivo de criar um memorial da liberdade.

O passeio começou com a minha primeira “viagem” de S-Bahn — na verdade fui apenas de uma estação (Warschauer Straβe) para a seguinte, mas mesmo assim já é novidade. Cheguei à Ostbahnhof, ou rodoviária do Leste, e me senti uma caipira, maravilhada com o tamanho dela. Ok, não é assim incrível, nada mais que o Tietê ou a Barra Funda, mas eu esperava uma estaçãozinha como as outras e descobri um terminal bem grande, com lojas, restaurantes, bancos, farmácias e essas coisas. Fiquei passeando um pouco. Já eram umas 11 horas mas, como não tinha comido nada de manhã, resolvi gastar mais um tempo ali e tomar um café da manhã caprichado — o que foi ótimo, porque demorei bastante para completar o trajeto do Muro.

Depois que saí da Ostbahnhof, fui seguindo as placas até a Mühlenstraβe (onde fica a East Side Gallery) e reparando nos prédios ao redor, como estes aí em cima. Em algumas regiões dá para perceber claramente as características das construções do lado Oeste (mais “diferentes”, “ricas”, sofisticadas) e do Leste (mais quadradonas, simples, quase sempre iguais ou bem parecidas).

Confesso que esperava mais. Não sei o porquê, mas tinha a expectativa de ser um negócio MUITO bonito e especial e acabei um pouco decepcionada. Sim, sem dúvida é bonito e especial, afinal é O Muro de Berlim e tem algumas obras que são bastante conhecidas — e por mais que você não queira, surge um orgulhozinho do tipo “eu vi de perto”. Mas fiquei com a sensação de quero mais, não sei explicar.

Tem uns pedaços muito mal conservados e alguns desenhos que para mim não representam muita coisa — é claro que o problema pode ser a minha desinformação sobre a importância deles. Além disso, turista é uma raça desgraçada que, em vez de preservar o que visita, prefere destruir as coisas para “registrar a presença” ali. E isso é uma coisa que me revolta.

Outro ponto negativo é que eu esperava ver o trecho que Keith Haring pintou, mas não achei (Alguém sabe se ainda está lá? E, se sim, onde fica?). Sem contar que, pra mim, não importa muito se está colorido ou não: aquele, ainda assim, é o mesmo Muro que dividiu famílias, aprisionou muitas pessoas e fez tantas outras morrerem. Ou seja, continua sendo um dos capítulos sombrios da história da humanidade.

De qualquer forma, foi um passeio gostoso. Uma tarde ensolarada e agradável que acabou às margens do igualmente famoso rio Spree (pelo qual eu acabei navegando depois, mas isso fica para um próximo post!). 🙂

Ah, e como não poderia deixar de ser, lá também tem uma praia artificial, dessa vez com o Spree fazendo as vezes de mar.

Ouvi dizer por aqui que Berlim tem mais de 170 museus, o que significa que, para conhecer todos eles, seriam necessários quase seis meses visitando um por dia. Como demorei praticamente um mês para ir ao primeiro, já me conformei que não vou conseguir completar essa missão tão facilmente.

O involuntariamente escolhido foi Jüdisches Museum, ou Museu Judaico. Digo isso porque a escola programou uma excursão para os alunos na quinta-feira passada e eu aproveitei para ir junto. E, apesar do tema ser bastante denso e complexo, comecei a exploração com o pé direito: toda a experiência da visita é realmente in-crí-vel, começando pelo próprio museu.

Ele foi fundado em 1933, na Oranienburger Straße, mas cinco anos depois foi fechado pelo regime nazista. Apenas em 2001, o acervo foi transferido para a Lindenstraße, onde continua até hoje, em um prédio projetado por Daniel Libeskind especialmente para esse propósito.

O premiado arquiteto é judeu e polonês, filho de sobreviventes do Holocausto. E talvez por ter uma ligação tão íntima com o tema, conseguiu imprimir na construção um simbolismo impressionante, capaz de transportar os visitantes para dentro da história e provocar as mais diversas sensações. Partindo da desconstrução das linhas da Estrela de Davi, distribuiu janelas minimalistas que laceram todos os lados. À primeira vista, lembra uma fortaleza. E lá dentro estão protegidas grandes surpresas para o público.

Seguindo esse modelo, Libeskind desenhou ambientes completamente irregulares e essa estrutura sinuosa acaba aguçando os sentidos e aumentando a nossa percepção. Como não é possível prever o que vem pela frente, ficamos mais atentos aos sinais (ou à falta deles) pelo caminho. Acredito que a sua intenção foi proporcionar uma pequena amostra do que os judeus sentiam quando eram capturados e levados aos campos de concentração.

As paredes não possuem ângulos retos e as pequenas aberturas permitem a entrada de luz natural, iluminando as salas de forma desigual. O piso é levemente inclinado, o que contribui para dificultar o equilíbrio e provocar uma certa desorientação espacial já a partir do primeiro passo.

À medida em que você explora as três partes que compõem a mostra (chamadas de Eixo do Holocausto, Eixo do Exílio e Eixo da Continuidade), mergulha mais fundo na história, na cultura e na realidade desse povo tão sofrido.

Para finalizar a primeira delas, está a Torre do Holocausto: uma sala fechada, com pé direito altíssimo e apenas uma pequena abertura lá em cima, que projeta um raio de luz no meio da escuridão e nos permite ouvir, ao longe, os barulhos da rua. Na minha interpretação, é um retrato do mundo em que os judeus viviam: fechado, escondido e separado do mundo lá fora. A sensação é de solidão e privação.

Já no Eixo do Exílio, o destaque é o Jardim dos Exilados. Como o nome sugere, é uma área aberta, com altas colunas quadradas que possuem oliveiras plantadas no topo. Assim como o restante do prédio, as colunas são inclinadas e o chão é irregular. Se você olha para baixo, consegue se orientar melhor mas não vê nada além da base das colunas e das pedras no chão.

Se olhar para cima, pode admirar o céu e as plantas, mas não consegue caminhar muito bem. Isso me remeteu ao que sinto aqui: um mundo novo, com muitas coisas para serem observadas, mas é preciso prestar atenção por onde vou pois não sei me orientar muito bem pelos caminhos. Se não é fácil para mim, que escolhi esse meu “exílio”, há muito mais dificuldade quando em vez de escolha é uma imposição.

Subindo as escadas, também tortinhas, você chega no Eixo da Continuidade, que é o mais atual e também o mais interativo. Nesta parte, o visitante é convidado, diversas vezes, a refletir sobre a condição dos judeus ontem e hoje e pode deixar sua contribuição com sugestões e mensagens para que a igualdade, entre todos povos, seja um dia alcançada. A Árvore de Romã ou Granatapfelbaum é um exemplo, e você pode deixar pendurado nela um desejo para a humanidade.

Em dois andares, o acervo conta como era a vida prática dos judeus e mostra como surgiram as tradições. Uma parte muito interessante é a que apresenta o significado das comidas e costumes praticados nas datas festivas. Ali você também pode, por exemplo, descobrir como seu nome é escrito em Hebraico, experimentar joguinhos eletrônicos e atividades relacionadas às informações importantes e também tirar fotos engraçadas — com o tradicional bigode ou com um kipá.

Mas antes de chegar à parte divertida, somos levados, lá em cima, a uma área forrada por pequenas placas redondas e iluminada por um vão no teto. E esse, para mim, foi o momento mais impressionante de toda a visita.

À medida em que a gente caminha sobre as peças de ferro, que na verdade são rostos (diferentes uns dos outros, feitos um a um), o atrito entre elas faz um barulho incômodo, que me remeteu a gritos das pessoas sendo pisadas, e que ecoa pelo ambiente. É a instalação “Schalechet” (Gefallenes Laub ou, em Português, Folhas Caídas), dedicada a todas as vítimas da guerra, do artista israelense Menashe Kadishman.

Bom, acho que deu para perceber que todo o percurso é bastante incômodo. Não sei dizer se pelos fragmentos de passagens que são contadas ali, pelas sensações provocadas pela estrutura dos ambientes, ou se por tudo isso junto. Mas, apesar de caótica, por outro lado, a visita é uma riquíssima aula sensorial em que podemos não apenas observar, mas também ouvir, sentir e até mesmo presenciar a História dos judeus.

Passar quatro horas ali dentro me deixou exausta, esgotada. Saí com milhares de pensamentos, sentimentos e sensações misturados e com tontura, uma certa indisposição física. Entretanto, este é o melhor museu que já conheci e esta foi uma das experiências mais fantásticas que já tive e com certeza recomendo para todos que tiverem a oportunidade. Posso dizer que comecei muito bem a minha aventura pelos museus berlinenses!

Notas:

1. Com exceção da última e da árvore, as fotos foram retiradas do site oficial do museu: www.jmberlin.de. Fiquei tão inebriada com tudo que acabei não fotografando quase nada.

2. Durante a visita, leve com você uma moedinha de 0,05€.

Sumi daqui, eu sei. Mas esta última semana foi mais curta (por causa do feriado do Dia da Reunificação da Alemanha) e, além de passear um pouco, também estava correndo com os últimos detalhes da minha residência definitiva aqui. Pois é, hoje é o último dia no quarto mais lindo que já conheci, mas na casa nova tem cama de casal e só isso já vale a troca. 🙂

Ter ficado o primeiro mês com uma hostfamily foi realmente positivo. Cheguei totalmente perdida mas minha mãe postiça me deu umas dicas super importantes (principalmente sobre os transportes públicos e os principais caminhos) e o ambiente de família também ajuda a aliviar a sensação de distância de casa e a falta dos parentes. Sim, estava morando em São Paulo sozinha há mais de seis anos, mas só quando a gente fica longe pra valer é que sente de verdade.

A partir de amanhã, dividirei um (grande) apartamento com uma menina alemã com quem me dei muito bem apesar dela não falar quase nada de Inglês e eu ainda não conseguir me expressar direito em Alemão. Acho que nos entendemos e ela parece bem tranqüila e moderninha na medida – ela tem uma tatuagem linda fechando o braço direito. A única regra da casa é que lá não entra carne nem bebida alcoólica, e no fundo eu até gostei disso. Estou animada com a mudança, já que ficarei perto da escola (pra evitar a preguiça de acordar mais cedo nos dias de frio) e no bairro do agito: Prenzlauer Berg.

A outra novidade é que a saudade começou a bater forte por aqui. Acho que a mistura de TPM com as visitas à East Side Galery e ao Jüdisches Museum e a leitura do livro “Um Dia” me deixaram sensível demais e aí pra sentir falta dos amigos é um pulo. Estou bem apesar disso – não fico chorando pelos cantos nem me tranco no quarto, mas faz falta falar com uma pessoa que entenda a gente sem muito esforço na hora do almoço, num café ou em algum passeio. É muito diferente conversar em inglês, dá muito trabalho ficar explicando as brincadeiras e traduzindo as piadas internas (por exemplo, até pra mim que conheço o contexto, um “Sit there, Claudia” fica sem sentido). Sem contar que a gente não encontra um amigo assim do dia pra noite, né? Mas vamos levando…

Hoje faz exatamente um mês que cheguei em Berlim e o balanço é extremamente positivo. A cidade e seus moradores me receberam muito bem, já me viro bem pelos caminhos (até me perco, mas consigo me encontrar depois) e inacreditavelmente tenho conseguido manter uns diálogos (simples, é claro) em Alemão! Esses 30 dias passaram voando, é verdade, mas ao mesmo tempo parece que estou aqui há pelo menos uns três meses, de tanta coisa que já aconteceu. Graças a Deus está tudo indo muito bem e espero que cotinue assim, sem grandes surpresas. E, tirando as opções gastronômicas (não aguento mais pimenta, curry e páprica!), está tudo perfeito.

A primeira referencia a Berlim de que me lembro eh do muro, provavelmente em uma aula de Historia no primario. Nunca tive muita paciencia para os feitos da Igreja Catolica, para as disputas entre Gregos e Troianos e muito menos para as Grandes Navegacoes. Entao a historia da Alemanha e tudo o que a envolvia, com (e apesar de) todas as suas crueldades, me deixavam mais curiosa. Isso ficou um pouco adormecido em mim desde que o meu grupo na faculdade fez uma pesquisa sobre Joseph Mengele e o Nazismo, mas acabou ressurgindo agora com a vinda a Berlim. E o Muro foi o primeiro “ponto turistico” que resolvi visitar. O sabado amanheceu, como de costume, azul e ensolarado e la fui eu com meu mapa debaixo do braco. Depois de algumas idas e vindas no metro (obvio!), consegui cheguar a estacao Kochstraße!. Logo que sai dela, dei de cara com o museu Haus am Checkpoint Charlie, que guarda a historia do famoso Muro de Berlim. A sensacao, ao chegar ali, foi um misto de tristeza e alegria. Estava feliz por ter a oportunidade de estar em um lugar tao importante, mas eh impossivel nao sentir o peso do sofrimento que a divisao causou pra tanta gente. Confesso que por alguns momentos fiquei ali observando aquela imagem que tinha visto em tantos livros e chorando quietinha. Alias, pra mim aquele eh um dos lugares mais tristes do mundo. Enquanto estive lah, lembrei muito da senhorinha que sentou ao meu lado no aviao e nas historias que ela me contou. Vi tambem algumas frases no muro que me fizeram imaginar quantas vidas foram mudadas pra sempre. Se com isso ja fiquei meio pensativa, preferi evitar ver a mostra ao ar livre que eles chamam de “Topografia do Terror” e nao consegui sorrir na foto ao lado do que sobrou daquela epoca. Mas de repente eu viro a esquina e encontro uma das coisas mais bizarras que ja vi na vida: uma “praia” onde um dia houve o Muro. Isso mesmo, um monte de areia com algumas barraquinhas e tendas, em que as pessoas ficam refesteladas, tomando uma cerveja e comendo um currywurst. Pra mim parece um tanto inadequado, mas esse pedaco de “paraiso” artificial acaba suavizando o clima pesado do lugar. Hesitei em trazer um pedacinho do Muro comigo, mas achei que nao seria um souvenir muito positivo a ser guardado. Prefiro ficar com a lembranca de ter visitado um lugar que nunca imaginei conhecer pessoalmente.