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de certa forma, sempre soube que eu era diferente das minhas amiguinhas na escola. meus interesses iam além dos meninos e dos colírios da Capricho: queria mais.

à medida em que fui crescendo entendi que havia uma infinidade de possibilidades além daquele mundinho ao qual estavam todos acostumados. condicionados, talvez — eu incluída. dentro de mim havia uma sede por coisas diferentes, novidades, descobertas. minhas expectativas não eram satisfeitas com aquilo que estava ao meu alcance: eu precisava de mais.

muita gente ouvia espantada quando contava sobre essas minhas fantasias. “você, jura?” muitos me desencorajaram dizendo que era coisa de adolescente, rebeldia tardia ou simplesmente vontade de chocar os outros. mas a curiosidade e o desejo de ter novas vivências não passou com o tempo.

um dia a oportunidade apareceu. comecei a trabalhar em São Paulo, de repente me vi sozinha nesta cidade imensa e acabei experimentando algo diferente. quando a conheci, confesso — menina crescida em cidade relativamente pequena — hesitei. aquela exuberância toda me assustava, mas ao mesmo tempo me enfeitiçou.

no começo, tímida, não sabia direito como me comportar, o que dizer, como me aproximar. tinha medo daquele mundo desconhecido, sim, e me sentia insegura. um pouco estranha. “o que pensariam de mim?” mas era excitante, apaixonante: como resistir? ela, tão misteriosa e cheia de personalidade, e eu, ansiosa para desfrutar de cada experiência que ela poderia me proporcionar.

ela tinha tudo o que eu sempre quis, foi impossível não me render aos seus encantos. com o tempo, fui conhecendo-a melhor e me soltando: mais ou menos nesse estágio nossa relação se intensificou. eu podia até ser um pouco diferente dos outros, mas me sentia muito bem quando estava por perto dela. super à vontade para fazer o que quer que fosse sem medo de julgamentos ou preconceitos. segura. de certa forma, finalmente me encontrei.

por causa dela, vivi inúmeros momentos felizes, conheci gente muito interessante, novas formas de me expressar e até de encarar a vida. e nos dias difíceis, quando eu mais precisei, ela esteve sempre lá, pronta pra me alegrar: nunca me deixou na mão. foi assim que o apego virou intimidade e o carinho se transformou em amor.

sei que não sou sua dona nem posso proibir que outras pessoas a conheçam e também gostem dela. só eu sei como é impossível não se sentir atraído por tudo o que ela é e tem a oferecer. o problema é que, nos últimos tempos, ela tem chamado a atenção de todo mundo. quase morro de ciúmes cada vez que parece que alguém a conhece melhor do que eu ou quando me contam alguma novidade que não fui a primeira a saber. me sinto traída, na verdade. e juro que, se pudesse, obrigaria certos tipos a manterem distância dela.

não imaginava um dia sentir algo assim, tão genuíno e intenso. vai ser difícil ficar longe, mas é por isso que digo que ainda volto pra você. eu te amo, Augusta — a rua que é muito mais que uma rua pra mim.

a rua Augusta, que infelizmente não é uma pessoa e nem sobrenome tem pois, do latim, significa “majestosa” ou “venerável”. exatamente como a levo dentro do peito.

minha amiga, MINHA Augusta. ❤️